Histórias
da Vida
Por
Sidnei Coelho
Adaptação
do conto de Izete Maia
O
mundo é feito de histórias reais e imaginárias. Enquanto algumas servem apenas
como fantasia e são escritas para alegrar o coração, outras são observadas após
o amanhecer, acontecendo a cada instante, bem em frente aos nossos olhos. São
daquelas que tocam o coração e fazem com que as lágrimas representem a nossa emoção.
Viver é uma dádiva e, feliz é quem consegue enxergar a grandeza nos gestos mais
simples.
Eu
sou um apaixonado por essas histórias e por isso viajo em busca dos melhores
relatos. Em minhas andanças, percebi que a maioria das situações acontecem ao
acaso. Os melhores contos surgem quando menos esperamos e são esses os que mais
nos emocionam. Cabe a mim a função de eternizar essas histórias — esse é o meu
legado — uma das razões do meu viver. Eu sou Sidnei Coelho, um eterno
apaixonado por palavras...
Sejam
bem-vindos ao meu mundo das histórias reais.
O
senhor sorridente
...ele
caminhou lentamente em direção à praça. É verdade que não morava muito longe,
mas com o passar dos anos o pequeno trajeto foi ficando cada vez maior. Apoiado
em sua bengala e usando um chapéu de couro vermelho, ele seguiu com a
determinação de sempre. A idade nunca o atrapalhou para realizar os seus sonhos
e principalmente, jamais o impediu de viver.
Um
passo e outro mais, uma pausa para um aceno. O Sr. Ernesto era um homem amigo e
conhecido por muitas pessoas. Há quem diga que ele conhece todos na cidade.
Ele
foi o primeiro a chegar naquela manhã e nem mesmo as professoras conseguiram
antecipar-se a aquele gentil senhor. Sentou-se no banco predileto, o mesmo que
sempre usou para contar as suas histórias. — e não foram poucas.
Seria
ali, naquela praça florida, onde os pardais voavam em uma constante dança de alegria,
ao mesmo tempo que os bem-te-vis cantavam na copa das árvores, que aconteceria
o grande evento. Os alunos da Escola Municipal se apresentariam e fariam aquilo
que o Sr. Ernesto fez por toda a vida: contariam histórias e fatos do cotidiano
local.
Aos
poucos as pessoas foram chegando e não demorou muito para que a praça fosse
tomada por uma pequena multidão de entusiasmados. Ele, por sua vez, permaneceu
sentado no mesmo lugar, quase em frente ao grande palco montado especialmente para
o evento. E de lá, acomodado e feliz, ele admirou os pequeninos serem
aplaudidos por seus amigos, familiares e por toda a multidão.
Enquanto
as crianças narravam as suas histórias, uma pequena equipe formada por
professoras da escola monitorava a plateia. Elas tinham a missão de identificar
os familiares, para poderem registrar as suas emoções. Muitas fotos e vídeos
foram feitas e a cada aluno que subia no palanque, emoções eram identificadas. Dessa
forma, com sorrisos e muita diversão, o evento foi emocionando todos os presentes.
Tudo
seria lindo e digno de tornar-se mais um evento espetacular organizado por
aquela grande escola, entretanto, ficou ainda maior... tornou-se inesquecível.
Tudo
aconteceu quando chegou a vez de Pedrinho se apresentar. Aquele menino sempre
foi adorável. Ele amava brincar na praça, soltar pipa e principalmente estudar.
Pedrinho sempre teve um talento com as palavras. Observador, era dono das mais
belas redações. O menino conhecido por sua fama de bom narrador, ajeitou o
microfone e observou a multidão em silêncio. — não se ouvia um único sussurrar
— Todos esperavam ansiosos pelas palavras de Pedrinho, que saudou a todos e
iniciou a sua história.
...era
uma vez a felicidade, um sorriso que sempre conseguiu transmitir o amor. Eu vou
contar a história de uma pessoa que tem o costume de emocionar a todos, alguém
que escolheu enxergar o lado bom de todos nós. Ele possui o maravilhoso dom de
sorrir...
Pedrinho
narrou aquela história e ninguém percebeu o tempo passar. Foi lindo e
emocionante. Um momento de poesia e vida. Mas enquanto todas as pessoas olhavam
atentamente para o palco, oferecendo ao menino um silêncio digno dos grandes
maestros, no fundo, sentado em seu banco, uma pessoa não conteve as lágrimas.
Era o Sr. Ernesto, que chorava sem parar e estava sendo consolado por pessoas
ao seu lado. Ninguém sabia o motivo daquela forte emoção, mas não demorou para
equipe de professores se dirigir até o local onde aquele carismático senhor
permanecia a chorar.
—
O senhor está bem? — perguntou uma professora.
—
Sim... sim, minha filha. — respondeu entre soluços.
—
É por causa do Pedrinho? Ele é seu parente? — perguntou outra professora — Um
neto ou algum outro parentesco? — completou.
—
Não minha filha, ele não é nada meu. — respondeu, ainda com a voz trêmula.
—
Mas então porque o senhor está chorando tanto? — perguntou a terceira
professora, tendo a certeza de que ninguém estava entendendo o motivo daquele
choro tão destacado.
—
É por causa da história. Fui eu quem contou tudo para ele aqui mesmo neste
banco. Essa é a minha história e eu não fazia ideia de que era uma história tão
linda.
Todos
se emocionaram com o relato e a emoção se espalhou ainda mais quando Pedrinho
terminou de falar. Ele foi aplaudido de pé, mas quando o silêncio se fez presente
outra vez, ele apontou para o grande nome do evento. A multidão entendeu e, em seguida,
com um gesto nobre, todos se viraram na direção do Sr. Ernesto para aplaudirem
mais uma vez. Palmas para um homem
humilde e gentil, alguém com o coração puro que, foi reconhecido por espalhar
alegria.
FIM
Essa
é uma história do Brasil, um relato da vida real. Parabéns a todos os Ernestos,
Pedrinhos e professoras, que juntos, espalham a alegria e o amor pelo mundo.
Até a
próxima...