terça-feira, 21 de agosto de 2018

A história do senhor sorridente


Histórias da Vida
Por Sidnei Coelho
Adaptação do conto de Izete Maia

O mundo é feito de histórias reais e imaginárias. Enquanto algumas servem apenas como fantasia e são escritas para alegrar o coração, outras são observadas após o amanhecer, acontecendo a cada instante, bem em frente aos nossos olhos. São daquelas que tocam o coração e fazem com que as lágrimas representem a nossa emoção. Viver é uma dádiva e, feliz é quem consegue enxergar a grandeza nos gestos mais simples.
Eu sou um apaixonado por essas histórias e por isso viajo em busca dos melhores relatos. Em minhas andanças, percebi que a maioria das situações acontecem ao acaso. Os melhores contos surgem quando menos esperamos e são esses os que mais nos emocionam. Cabe a mim a função de eternizar essas histórias — esse é o meu legado — uma das razões do meu viver. Eu sou Sidnei Coelho, um eterno apaixonado por palavras...

Sejam bem-vindos ao meu mundo das histórias reais.

O senhor sorridente

...ele caminhou lentamente em direção à praça. É verdade que não morava muito longe, mas com o passar dos anos o pequeno trajeto foi ficando cada vez maior. Apoiado em sua bengala e usando um chapéu de couro vermelho, ele seguiu com a determinação de sempre. A idade nunca o atrapalhou para realizar os seus sonhos e principalmente, jamais o impediu de viver.
Um passo e outro mais, uma pausa para um aceno. O Sr. Ernesto era um homem amigo e conhecido por muitas pessoas. Há quem diga que ele conhece todos na cidade.
Ele foi o primeiro a chegar naquela manhã e nem mesmo as professoras conseguiram antecipar-se a aquele gentil senhor. Sentou-se no banco predileto, o mesmo que sempre usou para contar as suas histórias. — e não foram poucas.
Seria ali, naquela praça florida, onde os pardais voavam em uma constante dança de alegria, ao mesmo tempo que os bem-te-vis cantavam na copa das árvores, que aconteceria o grande evento. Os alunos da Escola Municipal se apresentariam e fariam aquilo que o Sr. Ernesto fez por toda a vida: contariam histórias e fatos do cotidiano local.
Aos poucos as pessoas foram chegando e não demorou muito para que a praça fosse tomada por uma pequena multidão de entusiasmados. Ele, por sua vez, permaneceu sentado no mesmo lugar, quase em frente ao grande palco montado especialmente para o evento. E de lá, acomodado e feliz, ele admirou os pequeninos serem aplaudidos por seus amigos, familiares e por toda a multidão.
Enquanto as crianças narravam as suas histórias, uma pequena equipe formada por professoras da escola monitorava a plateia. Elas tinham a missão de identificar os familiares, para poderem registrar as suas emoções. Muitas fotos e vídeos foram feitas e a cada aluno que subia no palanque, emoções eram identificadas. Dessa forma, com sorrisos e muita diversão, o evento foi emocionando todos os presentes.
Tudo seria lindo e digno de tornar-se mais um evento espetacular organizado por aquela grande escola, entretanto, ficou ainda maior... tornou-se inesquecível.
Tudo aconteceu quando chegou a vez de Pedrinho se apresentar. Aquele menino sempre foi adorável. Ele amava brincar na praça, soltar pipa e principalmente estudar. Pedrinho sempre teve um talento com as palavras. Observador, era dono das mais belas redações. O menino conhecido por sua fama de bom narrador, ajeitou o microfone e observou a multidão em silêncio. — não se ouvia um único sussurrar — Todos esperavam ansiosos pelas palavras de Pedrinho, que saudou a todos e iniciou a sua história.
...era uma vez a felicidade, um sorriso que sempre conseguiu transmitir o amor. Eu vou contar a história de uma pessoa que tem o costume de emocionar a todos, alguém que escolheu enxergar o lado bom de todos nós. Ele possui o maravilhoso dom de sorrir...
Pedrinho narrou aquela história e ninguém percebeu o tempo passar. Foi lindo e emocionante. Um momento de poesia e vida. Mas enquanto todas as pessoas olhavam atentamente para o palco, oferecendo ao menino um silêncio digno dos grandes maestros, no fundo, sentado em seu banco, uma pessoa não conteve as lágrimas. Era o Sr. Ernesto, que chorava sem parar e estava sendo consolado por pessoas ao seu lado. Ninguém sabia o motivo daquela forte emoção, mas não demorou para equipe de professores se dirigir até o local onde aquele carismático senhor permanecia a chorar.
— O senhor está bem? — perguntou uma professora.
— Sim... sim, minha filha. — respondeu entre soluços.
— É por causa do Pedrinho? Ele é seu parente? — perguntou outra professora — Um neto ou algum outro parentesco? — completou.
— Não minha filha, ele não é nada meu. — respondeu, ainda com a voz trêmula.
— Mas então porque o senhor está chorando tanto? — perguntou a terceira professora, tendo a certeza de que ninguém estava entendendo o motivo daquele choro tão destacado.
— É por causa da história. Fui eu quem contou tudo para ele aqui mesmo neste banco. Essa é a minha história e eu não fazia ideia de que era uma história tão linda.
Todos se emocionaram com o relato e a emoção se espalhou ainda mais quando Pedrinho terminou de falar. Ele foi aplaudido de pé, mas quando o silêncio se fez presente outra vez, ele apontou para o grande nome do evento. A multidão entendeu e, em seguida, com um gesto nobre, todos se viraram na direção do Sr. Ernesto para aplaudirem mais uma vez.  Palmas para um homem humilde e gentil, alguém com o coração puro que, foi reconhecido por espalhar alegria.

FIM

Essa é uma história do Brasil, um relato da vida real. Parabéns a todos os Ernestos, Pedrinhos e professoras, que juntos, espalham a alegria e o amor pelo mundo.

Até a próxima...

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