Marina Alexiou - direto de Portugal:
Estamos num quarto, mas este quarto é diferente dos quartos onde vivemos. É um quarto onde se vive e não se vive. Um quarto que pensamos. Como podeis ver, os objetos gozam aqui de uma liberdade muito curiosa e vivem melhor do que nos quartos onde realmente vivemos.
....Quero eu dizer que o quarto onde vos encontrais é um quarto habitado por alguém que dorme, e cheio de um outro mundo diferente do que existe nos quartos onde os objetos dormem.
....Os adormecidos são nadadores que não têm alto nem baixo. Afastam-se de nós imóveis, e tão depressa que a sua velocidade bate a dos peixes cegos de oceanos profundos; e o quarto da donzela Ursula é um verdadeiro quarto e um falso quarto, uma das cenas do teatro do sonho onde um drama se desenrola como acontece no sonho, onde o tempo se enreda, onde a adormecida que sonha precede, com toda a sua velocidade de nadadora imóvel, a vida lenta.
Enviado por Marina Alexiou Portugal: trechos de autoria de Jean Cocteau, do livro: Visão Invisível, ed. Sistema Solar, Lisboa, 2016 - p.63-64.
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